Conheça o candiru, peixe que suga sangue e devora carcaças na Amazônia
28/10/2025
(Foto: Reprodução) O candiru hematófago Vandellia cirrhosa, da subfamília Vandelliinae
Ivan Sazima
Um peixe minúsculo, mas cercado por histórias gigantes. O candiru, conhecido como o “vampiro” da Amazônia, é um dos animais mais misteriosos da ictiofauna brasileira. Fala-se que ele se alimenta de sangue, devora carcaças e até invade o corpo humano. Mas o que a ciência realmente sabe sobre esse peixe?
De acordo com o biólogo Jorge Luiz Silva Nunes, doutor em Oceanografia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), quando falamos em candiru, não estamos falando de uma única espécie de peixe.
Candirus podem ser hematófagos (alimentam-se de sangue) e necrófagos (exploram carcaças e cadáveres humanos)
Jansen Zuanon e Efrem J. G. Ferreira
“Candiru é uma denominação genérica para espécies de peixes dulcícolas que lembram pequenos bagres hematófagos e/ou necrófagos. Eles pertencem principalmente às famílias Trichomycteridae e Cetopsidae, com variações de tamanho desde minúsculos exemplares até os chamados candiru-açu, maiores e vorazes”, explica.
Entre os nomes científicos já descritos pela ciência estão: Apomatocerus alleni, Miuroglanis platycephalus (candiru-miniatura), Vandellia cirrhosa (candiru-açu), Vandellia sanguinea, Plectrochilus diabolicus, Cetopsis candiru e Cetopsis coecutiens.
Cetopsis candiru
martin-acosta/iNaturalist
Mas o que todos eles têm em comum é a fama de hábitos extremos. Alguns são hematófagos – alimentam-se de sangue ao se fixar nas brânquias de outros peixes. Outros são necrófagos – exploram carcaças e até cadáveres humanos encontrados nos rios.
“Enquanto as espécies da família Trichomycteridae tendem a ser menores e se escondem em substratos (normalmente areia), fixando-se nas brânquias do hospedeiro, os candirus da família Cetopsidae podem arrancar pedaços de carne com dentes fortes e mandíbula afiada”, detalha o pesquisador.
O mito da invasão do corpo humano
A história mais assustadora ligada ao candiru é a de que ele poderia entrar na uretra de banhistas. De acordo com Nunes, os relatos são mais anedóticos do que científicos.
“Esses casos não possuem comprovação confiável. O que sabemos é que o peixe pode sim invadir cavidades, inclusive de cadáveres, mas não há consenso de que seja atraído por urina ou menstruação, como se fala popularmente”, ressalta.
Cetopsis coecutiens
bradleyfishes/iNaturalist
O que já está documentado é a capacidade do candiru de causar ferimentos em peixes e até em pessoas que entram em contato acidental com ele. Um artigo recente, por exemplo, trouxe o registro em vídeo de um trauma sofrido por um jovem enquanto nadava em um rio.
Apesar da fama, o pesquisador reforça que ataques a pessoas vivas são raríssimos. “Não há uma explicação plausível para a atração desses peixes pelo corpo humano. Para banhistas, a recomendação é simples: conversar com moradores locais antes de entrar em rios e evitar mergulhar com ferimentos abertos ou sangramentos”.
Se o candiru hematófago desperta medo, o candiru-açu reforça a fama macabra. Há registros de sua presença em cadáveres humanos em rios amazônicos.
O candiru-baleia Cetopsis coecutiens, da subfamília Cetopsinae
Jansen Zuanon e Efrem J. G
“Eles perfuram a carcaça e se alimentam de dentro para fora. Podem consumir tanto restos de animais quanto de humanos”, explica o biólogo.
Em alguns casos, já foram até utilizados em estudos forenses, ajudando a determinar o tempo de morte em corpos encontrados na água.
Mais do que uma curiosidade sombria, o candiru também cumpre um papel importante nos ecossistemas amazônicos. Como parasita, necrófago ou predador, ele faz parte da teia alimentar dos rios. “São espécies raras, pouco estudadas e que podem ser afetadas pela degradação ambiental, como barragens e mudanças no curso dos rios”, conclui Nunes.
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