Palmeira que ‘anda’? Entenda por que planta nativa carrega mito de caminhar pela floresta

  • 29/10/2025
(Foto: Reprodução)
Socratea exorrhiza pertence à família das Arecaceae, que ocorre da América Central até à Bacia do Amazonas Carroll Perkins/iNaturalist Imagine uma árvore que, aos poucos, troca de lugar na floresta. Essa é a fama da palmeira-andante (Socratea exorrhiza), também chamada de paxiúba. A aparência de que ela tem “pernas” e consegue se deslocar intriga turistas e pesquisadores há décadas. Segundo a bióloga e botânica Carolina Ferreira, o apelido começou a circular nos anos 1980, quando antropólogos registraram, no Peru, a ideia de que a planta poderia se mover em busca de luz. “O nome popular se deve ao fato de que a espécie, através de um processo bastante lento, teria novas raízes crescendo em direção a lugares mais favoráveis. À medida que essas novas raízes se fixassem, as mais antigas acabariam levantando e morrendo, e a árvore pareceria se deslocar”, explica. Mas, de acordo com os estudos mais recentes, a teoria de que a palmeira realmente anda não passa de um mito. As chamadas raízes-escora podem chegar a dois metros e partem do caule em direção ao solo, formando um cone aberto Ty Sharrow/iNaturalist “Hoje sabemos que essas raízes escora não fazem a planta se mover. Elas servem, na verdade, para dar estabilidade em solos alagados e permitem que a árvore aumente sua altura sem investir em um tronco grosso. Assim, ela alcança mais luz no dossel da floresta”, completa Carol. As chamadas raízes-escora podem chegar a dois metros e partem do caule em direção ao solo, formando um cone aberto. “É isso que chama tanta atenção: parece que a planta tem pernas. Tanto que um dos nomes populares é ‘sete pernas’”, comenta a bióloga. Além da aparência, essas raízes representam uma vantagem evolutiva, pois aumentam a capacidade da espécie de explorar as frestas de luz melhor do que outras palmeiras. As raízes da palmeira-andante representam uma vantagem evolutiva, pois aumentam a capacidade da espécie de explorar as frestas de luz melhor do que outras palmeiras Kim Dewey/iNaturalist Papel na floresta A palmeira-andante ocorre em vários países da América Latina, desde a Nicarágua até o Brasil, passando por Costa Rica, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. No território brasileiro, está presente em áreas de floresta de terra firme e regiões periodicamente alagadas, sempre próximas a rios e igarapés, nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Maranhão e Roraima. Os frutos da palmeira-andante alimentam diversos animais, como macacos, antas, porcos-do-mato e aves como tucanos e jacus Miles Buddy/iNaturalist A paxiúba é uma peça importante no equilíbrio da floresta. “Seus frutos alimentam diversos animais, como macacos, antas, porcos-do-mato e aves como tucanos e jacus, que ainda ajudam na dispersão das sementes. Já suas raízes podem servir de abrigo para pequenos roedores”, explica Carolina. Usos pela população Além do papel ecológico, a espécie é valorizada por comunidades tradicionais. O estipe fibroso e resistente é usado para construir casas, paredes, assoalhos, armadilhas de pesca, arcos, bengalas e até postes. As sementes, que lembram a noz-moscada por sua aparência rajada, viram matéria-prima para biojóias e móveis artesanais. As sementes da palmeira-andante lembram a noz-moscada por sua aparência rajada Mayk Oliveira/iNaturalist Na medicina popular, também há registros. “As raízes já foram utilizadas no tratamento de hepatite, leishmaniose e até doenças sexualmente transmissíveis. Há relatos do uso do caule ralado para cicatrizar o umbigo de recém-nascidos, além do exsudado das raízes em venenos de flechas”, detalha. Outra curiosidade é o uso contra insetos da floresta: substâncias presentes nas raízes são citadas em estudos como um recurso para aliviar a dor intensa causada pelas picadas da formiga-conga. Com tantos usos, a espécie corre riscos. “É preciso ter cuidado com o manejo da paxiúba. O uso indiscriminado, somado ao desmatamento e às mudanças climáticas, pode comprometer as populações naturais de Socratea exorrhiza”, alerta a bióloga. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2025/10/29/palmeira-que-anda-entenda-por-que-planta-nativa-carrega-mito-de-caminhar-pela-floresta.ghtml


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