Serpentes com patas? Conheça o passado oculto desses répteis
31/10/2025
(Foto: Reprodução) Eupodophis descouensi viveu no Líbano
Ghedoghedo / Wikimedia Commons
Quando se fala em serpentes, é quase inevitável imaginar um animal que rasteja silenciosamente pelo chão. A associação faz sentido, afinal, é assim que elas se locomovem hoje. Mas nem sempre foi dessa forma.
A paleontologia, ciência que estuda os fósseis para compreender a vida em tempos remotos, mostra que as serpentes do passado tinham membros locomotores. A partir de fósseis e evidências geológicas, pesquisadores conseguiram reconstruir parte dessa trajetória evolutiva que transformou antigos répteis com patas nos animais alongados e ágeis que conhecemos.
Segundo especialistas, os registros fósseis mais antigos de serpentes datam de cerca de 100 milhões de anos, no período Cretáceo. Esses achados revelam que, naquela época, elas se movimentavam de forma diferente e, em alguns casos, ainda possuíam patas bem desenvolvidas.
"Serpentes como Eupodophis descouensi, do Líbano, e Najash rionegrina, da Argentina, apresentam não apenas elementos do crânio e da coluna, mas também das patas traseiras preservadas. São animais que perderam as patas dianteiras, mas mantinham as patas traseiras", explica Bruno Gonçalves Augusta, paleontólogo e divulgador científico do canal Zoomundo.
Najash rionegrina foi apresentada na revista Nature em 2006, po Hussam Zaher e Sebastián Apesteguía
Paleoninja / Wikimedia Commons
"Já a Tetrapodophis amplectus, da Chapada do Araripe, aqui no Brasil, foi descrita como a primeira serpente com quatro patas preservadas do mundo, mas pesquisadores ainda discutem se esse fóssil é de uma serpente mesmo ou de alguma outra linhagem, talvez próxima das serpentes", completa.
Por que as serpentes perderam as patas?
A principal hipótese entre os cientistas é que as serpentes evoluíram a partir de ancestrais escavadores répteis que viviam enterrados no solo. Nessa condição, perder os membros teria sido uma vantagem: o corpo alongado e sem patas reduzia o atrito com o sedimento, facilitando a movimentação subterrânea.
Fóssil da espécie Tetrapodophis amplectus, localizado no Burgmeister Muller Museum (Alemanha)
Ghedoghedo / Wikimedia Commons
"Um detalhe curioso é que as serpentes são só “mais uma” das várias linhagens de lagartos que perderam as patas e ficaram com o corpo alongado: anfisbênias, dibamídeos e tantos outros são exemplos de outros lagartos que seguiram uma trajetória evolutiva semelhante", aponta Bruno.
As serpentes passaram a ter muito mais vértebras do que os lagartos, o que aumentou sua flexibilidade e capacidade de deslocamento em diferentes ambientes.
Vestígios do passado
Até hoje, algumas espécies de serpentes como a jiboia ainda preservam sinais de membros locomotores que tiveram no passado longínquo.
"As jiboias possuem um par de esporas que ficam próximas da cloaca, que são nada mais do que resquícios de suas patas traseiras do passado. Machos possuem esporas um pouco maiores, que utilizam durante o cortejo com as fêmeas para reprodução", explica o paleontólogo.
Vantagem na perda
Mas afinal, o que as serpentes ganharam ao abrir mão dos membros? Para os cientistas as serpentes tiveram algumas vantagens.
"Se não tivesse sido vantajoso, essa característica não teria permanecido na evolução do grupo. Se a característica permaneceu, é porque foi vantajosa do ponto de vista de seleção natural, o que aumentou as chances de sobrevivência desses animais e fez com que as serpentes se tornassem extremamente diversas, já que hoje são conhecidas mais de 4 mil espécies de serpentes", completa o pesquisador.
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