Tamanduá com filhote é flagrado enquanto aprende a se alimentar em Potangaba, SP
01/12/2025
(Foto: Reprodução) Tamanduá com filhote é flagrado enquanto aprende a se alimentar em Potangaba (SP)
Durante uma observação no interior de São Paulo, o fotógrafo e documentarista Rodrigo Dallano registrou uma cena especial: um tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) acompanhado do filhote, que aprendia a se alimentar em um cupinzeiro na zona rural de Potangaba (SP).
O registro, feito em julho de 2024, mostra o pequeno atento aos movimentos da mãe enquanto ela busca alimento.
Desde 2022, Dallano se dedica a reflorestar o sítio onde vive e a registrar a fauna local. Ele publica os registros em seu canal no YouTube e no Instagram. A vegetação nativa da Mata Atlântica vem ocupando novamente o espaço antes tomado por pastos, e, com isso, o fotógrafo tem acompanhado o retorno de diferentes espécies à região.
A dieta do tamanduá-bandeira é composta principalmente por formigas e cupins.
Rodrigo Dallano
“Minha relação com a natureza começa pelo entendimento de que sou parte dela. Desde que adquiri o sítio e iniciei o reflorestamento e a recuperação da área, um processo que começa na coleta das sementes e segue até o plantio, tenho cada vez mais a certeza de que cuidar da natureza é cuidar de si próprio, tanto físico quanto psicologicamente”, revela.
Onças-pardas, jaguatiricas e socós-bois já passaram por suas lentes, mas o encontro com o tamanduá e seu filhote, segundo ele, teve um significado especial “um instante em que o real e o sonho se confundem”.
Segundo Flávia Miranda, presidente do Instituto Tamanduá, no vídeo o filhote de tamanduá-bandeira observa a mãe durante a amamentação – já que permanece nas costas dela – e, assim, acompanha o forrageamento para aprender a se alimentar.
“A idade em que ele para de mamar e começa a comer insetos ainda não é certa. A gente acredita que seja em torno de quatro a cinco meses. Dá para ver no vídeo que ele desce, forrageia, depois sobe novamente, busca a amamentação da mãe e, em seguida, volta para o cupinzeiro. É uma transição lenta, em que ele vai desmamando aos poucos”, explica.
Além disso, a especialista explica que ainda não se sabe ao certo quando o filhote se dispersa da mãe. A estimativa é que isso ocorra por volta dos quatro a cinco meses. Há poucos estudos sobre o tema, mas pesquisadores já vêm se dedicando a compreender o comportamento dos filhotes.
Tamanduás-bandeiras registrados em Potangaba (SP)
Rodrigo Dallano
De acordo com ela, a literatura aponta que, nesse período, eles permanecem próximos da mãe, embora já sejam independentes na alimentação.
A dieta do tamanduá-bandeira é composta principalmente por formigas e cupins. Há relatos de indivíduos que já se alimentaram de minhocas, mas isso é bastante raro. Pesquisadores também encontram, ocasionalmente, restos de grama, que não fazem parte da alimentação natural da espécie, e pequenas quantidades de terra, ingeridas durante o forrageamento.
O olfato tem papel fundamental nesse processo – o nariz alongado ajuda o animal a farejar o solo em busca de formigas e cupins. Flávia explica que a língua é uma ferramenta essencial para a alimentação do tamanduá. Do ponto de vista evolutivo, esses animais não possuem dentes e são insetívoros. A língua, alongada e vermiforme, é coberta por uma saliva bastante viscosa, que ajuda na captura de formigas e cupins. Todo o peitoral do tamanduá é formado por glândulas salivares, e a língua fica armazenada em uma bolsa repleta de células caliciformes, responsáveis pela produção dessa saliva.
“Os tamanduás em geral são seres apaixonantes, extremamente antigos e exclusivos da América Latina, com cerca de 33 milhões de anos. Eles não possuem dentes e, mesmo sendo mamíferos que podem pesar 40 quilos ou mais, alimentam-se exclusivamente de formigas e cupins, tendo um metabolismo bastante baixo. São animais incríveis”, finaliza.
O tamanduá-bandeira chega a consumir 30 mil formigas por dia
Mauricio Abib
Instituto Tamanduá
Fundado em 2005, o Instituto Tamanduá atua há 18 anos na conservação da biodiversidade brasileira, com foco em pesquisas científicas, educação ambiental e formulação de políticas públicas que promovem o equilíbrio entre o meio ambiente e suas espécies. A organização é referência nacional no estudo e manejo de tamanduás, tatus e preguiças. Nos últimos anos, o instituto ampliou sua área de atuação, passando a desenvolver ações voltadas não apenas às espécies, mas também à conservação dos habitats onde vivem – uma abordagem que busca contemplar a biodiversidade de forma integrada.
Entre os projetos mais recentes está o trabalho de resgate e reabilitação de tamanduás-bandeira órfãos, iniciado após os incêndios que atingiram o Pantanal em 2020. Realizada na Pousada Aguapé, em Aquidauana (MS), a iniciativa tem como objetivo cuidar dos animais afetados pelas queimadas até que estejam prontos para voltar à natureza.
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