Tecnologia e dedicação ajudam a preservar o pato-mergulhão na Serra da Canastra
02/12/2025
(Foto: Reprodução) : Ave símbolo da fauna brasileira, pato-mergulhão é uma das espécies mais ameaçadas do mundo
Crédito: Divulgação
A imponente Serra da Canastra, em Minas Gerais, abriga um dos últimos refúgios do pato-mergulhão — ave símbolo da conservação da fauna brasileira e uma das mais ameaçadas do mundo. Após desaparecer dos registros por décadas, o animal voltou a ser visto no final dos anos 1990, quando as primeiras imagens registradas pelo programa Terra da Gente revelaram um pequeno ponto no Rio São Francisco: o retorno de uma espécie que parecia ter se perdido na história.
Desde então, pesquisadores e ambientalistas vêm dedicando suas vidas ao estudo e à proteção dessa ave rara. O trabalho combina ciência, paciência e tecnologia, com resultados que trazem esperança para a preservação do Cerrado e das nascentes do Velho Chico.
Monitoramento por satélite
O trabalho de monitoramento e conservação do pato-mergulhão compõe o Projeto Ecomergus, da BluestOne, que dialoga com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e mantém, ainda, outras iniciativas, como atividades nas escolas da região, para conscientizar os estudantes sobre a importância da preservação ambiental e incentivar a adoção de práticas sustentáveis desde cedo. As aulas, interativas, abrangem temas como reciclagem, cuidados com a água, biodiversidade e energia renovável.
Os alunos também são estimulados a implementar sistemas de hidroponia vertical nas escolas e a desenvolver campanhas com cartazes, vídeos e apresentações. Eles também assistem a palestras e participam de workshops oferecidos por meio de parcerias comunitárias.
Outra ação do Ecomergus é a oferta de cursos, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Sindicatos Rurais, sobre a criação de abelhas sem ferrão, que promove uma fonte de renda extra para proprietários rurais da região de outros interessados no tema.
No caso específico da observação do pato-mergulhão, o avanço tecnológico tem sido um aliado fundamental nesse esforço. Equipes de pesquisa capturaram algumas aves e instalaram pequenos transmissores — apelidados de “mochilas”, fornecidos pelo Zooparque Itatiba, um dos parceiros do projeto — que emitem sinais de localização via satélite.
Os equipamentos, leves e abastecidos por energia solar, permitem acompanhar remotamente os deslocamentos das aves. Tecnologia que permite monitorá-las sem interferir em seu comportamento natural e orienta o trabalho de campo, pois, com os dados do satélite, os pesquisadores conseguem chegar mais rápido aos exemplares da espécie.
Antes de serem usadas em campo, as mochilas foram testadas pelo Zooparque Itatiba em um centro brasileiro de reprodução do pato-mergulhão, para garantir segurança e conforto aos animais. Três machos foram equipados com os transmissores — a escolha se deu porque o peso e o formato do dispositivo poderiam interferir no comportamento reprodutivo das fêmeas.
A jornada pela Serra da Canastra
Como parte do roteiro da Biotravessia, a equipe do Terra da Gente acompanhou de perto essa jornada em São Roque de Minas, no Parque Nacional da Serra da Canastra. O local, criado em 1972 para proteger as nascentes do Rio São Francisco, é um dos mais importantes santuários do Cerrado, com uma área quase três vezes maior que a cidade de Campinas.
Durante a expedição, o grupo registrou outros habitantes emblemáticos da região, como o veado-campeiro, o tamanduá-bandeira e o lobo-guará — espécies que também encontram na Canastra um refúgio essencial. A biodiversidade local convive com vestígios históricos, como os currais de pedra erguidos há mais de um século pelos tropeiros que cruzavam o chapadão em busca de pastagens e descanso.
Presença do pato-mergulhão é um indicador da qualidade da água, já que ele depende de ambientes limpos para sobreviver
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Uma busca de paciência e esperança
Seguindo as coordenadas de GPS, os pesquisadores iniciam uma longa caminhada pelas margens do Córrego da Mata, cercados por campos verdes e águas cristalinas. O objetivo é reencontrar uma família de sete patos-mergulhões, identificados anteriormente pelo monitoramento remoto.
A trilha é desafiadora: córregos, capim alto e terrenos acidentados testam o fôlego e a persistência da equipe. Entre tropeços e travessias, a expectativa cresce a cada passo. Finalmente, após horas de caminhada, o silêncio e a observação atenta são recompensados — os primeiros filhotes equipados com transmissores são avistados, nadando em um trecho preservado do rio.
O registro é mais do que uma imagem rara: representa uma conquista científica. Pela primeira vez, será possível descobrir para onde vão os jovens após se separarem dos pais — um mistério que intriga os pesquisadores há anos.
A alegria, no entanto, vem acompanhada de apreensão. Parte do grupo de patos parece ter desaparecido, levantando suspeitas de predação natural. Pouco depois, porém, a equipe encontra o restante da família rio abaixo — todos saudáveis e novamente reunidos.
Símbolo do Cerrado
O pato-mergulhão depende de rios limpos e bem conservados para sobreviver. Sua presença é um indicador da qualidade ambiental das águas e da saúde dos ecossistemas do Cerrado. Por isso, proteger o habitat da espécie é também garantir a vida de todo um bioma. A Serra da Canastra segue sendo um laboratório vivo da conservação, onde a tecnologia e o esforço humano se unem em prol da biodiversidade
Serra da Canastra, em Minas Gerais, abriga um dos últimos refúgios do pato-mergulhão
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SERVIÇO:
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