Único guaxinim brasileiro, mão-pelada é flagrado se alimentando à luz do dia em manguezal paranaense
16/09/2025
(Foto: Reprodução) Mão-pelada é registrado em plena luz do dia na Ilha da Cotinga, Paraná
Christina Guanais
Enquanto remava de canoa havaiana pelo canal entre a Ilha da Cotinga e a Ilha Rasa da Cotinga, em Paranaguá (PR), Christina Guanais teve um encontro raro e inesperado: um mão-pelada (Procyon cancrivorus), único guaxinim que vive no Brasil, foi registrado se alimentando à luz do dia, por volta das 11h30 da manhã.
“Minha primeira impressão foi que era um macaquinho, depois achei que fosse um quati, mas à medida que me aproximei com cuidado, percebi que era o mão-pelada. Ele estava se alimentando e dava para ouvir o barulho de algo sendo roído”, conta Christina, que costuma remar de canoa havaiana pela região e nunca havia visto a espécie ao vivo.
Mão-pelada tem pelagem densa, com coloração acinzentada e, ao redor do rosto, possui uma espécie de “máscara” negra
Glauko Corrêa
O mão-pelada é o único representante do gênero Procyon nativo da América do Sul e um dos poucos membros da família dos guaxinins presentes no continente.
Ele é bem exclusivo, da mesma família dos coatis, mas de gênero único. É um carnívoro ligado a áreas úmidas, como manguezais e pântanos, e é bastante arisco, por isso é raro vê-lo durante o dia
Na maior parte do tempo, a espécie é crepuscular, ou seja, mais ativa no início da manhã e no fim da tarde. Encontrá-la em plena luz do dia é, portanto, um registro inusitado, e revela detalhes importantes sobre seu comportamento e sobre a saúde do ecossistema onde vive.
O mão-pelada é o único representante do gênero Procyon nativo da América do Sul e um dos poucos membros da família dos guaxinins presentes no continente.
Marie Ronchino/iNaturalist
“O fato de ele ter sido visto se alimentando à luz do dia pode estar relacionado à maré baixa, que facilita o acesso aos caranguejos, e ao isolamento do local, sem barulho de motores ou movimento de pessoas, o que permitiu que o animal se mantivesse tranquilo”, detalha a pesquisadora.
Amante de caranguejos
No manguezal, a dieta do mão-pelada tem preferência por caranguejos e outros animais aquáticos, embora ele seja classificado como onívoro.
As patas quase sem pelos, que deram origem ao nome da espécie, são uma adaptação que ajuda o animal a cavar o sedimento sem resfriar o corpo, permitindo que ele se mova com facilidade pelo lodo do mangue.
No manguezal, a dieta do mão-pelada tem preferência por caranguejos e outros animais aquáticos, embora ele seja classificado como onívoro
Christina Guanais
“Quando encontramos suas pegadas, sabemos que o ambiente ainda consegue garantir alimento suficiente para essa população. É um ótimo indicativo da saúde do manguezal”, afirma Cassiana.
Ela também ressalta que, ao contrário do guaxinim americano, o mão-pelada não se aproxima com frequência de áreas urbanas ou lixo, pois depende de habitats equilibrados e bem preservados.
Ao contrário do guaxinim americano, o mão-pelada não se aproxima com frequência de áreas urbanas ou lixo
biomoments/iNaturalist
Um indicador da vida nos manguezais
O flagrante da Ilha da Cotinga surpreende não apenas por registrar um comportamento raro, mas também por revelar a importância dos manguezais para a manutenção do mão-pelada. A maré baixa naquele dia possivelmente facilitou o acesso do animal aos crustáceos, permitindo a observação.
Na maior parte do tempo, o mão-pelada é crepuscular, ou seja, mais ativo no início da manhã e no fim da tarde
fernandofariasbirding/iNaturalist
“O mão-pelada depende dos caranguejos, e ambos dependem de um manguezal saudável para sobreviver. A presença do animal indica que o manguezal ainda mantém populações saudáveis de caranguejos, essenciais para sua alimentação e sobrevivência. Ao mesmo tempo, é um lembrete de que contaminantes no sedimento ou nos crustáceos podem afetar a espécie, mostrando como esses ecossistemas são delicados e interconectados”, alerta Cassiana Baptista Metri.
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